Especialistas discutem impactos da IA no mercado de trabalho e os desafios para empresas e universidades durante o Conexão REC’n’Play no Recife
De Recife / FONTE: ME
A inteligência artificial (I.A) já faz parte da rotina de muitas empresas. Longe de ser apenas uma aposta para o futuro, a tecnologia vem ganhando espaço em diferentes setores, otimizando processos, ampliando a produtividade e influenciando decisões estratégicas.
No Brasil, no entanto — especialmente no Nordeste — a adoção I.A ainda exige um debate mais aprofundado. Foi com esse foco que especialistas participaram, nesta sexta-feira (15), do painel “Inteligência Artificial e o Futuro do Trabalho”, dentro da programação do Conexão Rec n’Play.
O encontro, realizado no auditório do Porto Digital, no Bairro do Recife, reuniu nomes de destaque do ecossistema de inovação. Estiveram presentes Pierre Lucena, presidente do Porto Digital; Silvio Meira, cientista-chefe da TDS Company; e Pollyanna Cavalcanti, diretora de Pessoas e Cultura da Avantia. A mediação ficou por conta de Patrícia Raposo, CEO do portal Movimento Econômico e colunista da Folha de Pernambuco e das rádios CBN Maceió e FolhaPE.
Impacto da I.A já atinge 25% dos empregos
Durante a roda de conversa, Silvio Meira destacou que cerca de 25% dos empregos com carteira assinada no Brasil já são impactados por I.A — percentual semelhante ao de países europeus e superior à média global, de 20%.
Nesse cenário, atividades como direção de veículos, atendimento básico e serviços de limpeza não correm risco iminente. Em contrapartida, funções administrativas, do setor jurídico e de design gráfico, por exemplo, tendem a sofrer mudanças expressivas, especialmente entre aqueles que ainda não se adaptaram ao uso dessas ferramentas. O mesmo vale para médicos especializados em diagnósticos por imagem que não utilizarem recursos digitais para ampliar sua capacidade de análise.
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Como exemplo do impacto atual, Meira citou a Microsoft, que recentemente demitiu quase 7 mil profissionais em cargos de liderança média. Segundo ele, as transformações afetam principalmente o centro da pirâmide organizacional, onde estão as posições estratégicas.
“Se você está tentando usar a I.A para aumentar, para expandir, para estender a sua capacidade de entender e agir no mundo como aquele ser que abstrai conceitos e concretiza abstrações, aí você vai para o futuro. Se você é um ser humano que está pedindo para a máquina substituir você, ela vai te substituir. E não é daqui a três anos, é agora.”
Produtividade em alta, mas com desafios estruturais
As ferramentas digitais têm acelerado processos e gerado ganhos concretos nas empresas. Na Avantia, por exemplo, tarefas repetitivas como a leitura de editais — que antes levavam semanas — agora são resolvidas em poucas horas, segundo Pollyanna Cavalcanti.
Além da economia de tempo, a presença dessas soluções despertou um comportamento mais questionador entre os colaboradores, que passaram a propor formas mais eficazes de realizar suas atividades. “A gente já consegue ver com muita eficiência o quanto o uso da I.A generativa tem nos ajudado. Obviamente, sem abrir mão da discussão crítica”, afirma Pollyanna.
Na área de gestão de pessoas, esses recursos têm sido aliados na construção de políticas internas e projetos. Ainda assim, ela reforça que devem ser vistos como ferramentas de apoio, sem substituir a inteligência social ou o pensamento estratégico.
Apesar dos avanços, a especialista aponta obstáculos importantes, sendo o principal o letramento digital. “A proposta não é ensinar só a usar a tecnologia, mas ajudar as pessoas a pensarem diferente”, afirma. Ela também destaca a necessidade de estratégias integradas, que envolvam toda a empresa — e não apenas setores específicos — e alerta para a dificuldade de mensurar resultados concretos.
“Não existe receita de bolo. Cada empresa precisa encontrar um caminho que se adeque à sua realidade de negócio. Mas certamente é um tema que não pode ser ignorado”, conclui.
Formação profissional ainda não acompanha o mercado
Outro ponto levantado por Pierre Lucena foi o descompasso entre a velocidade do mercado e a capacidade de adaptação das universidades. Para ele, instituições de ensino superior ainda funcionam como “máquinas de informação”, focadas na formação técnica e analítica, mas lentas para responder às novas exigências.
“Estávamos acostumados a ver mudanças na base da pirâmide. Essa é a primeira vez que o extrato social da classe média está sendo atingido. Empregos de média criatividade, análise, serão substituídos pelo uso da I.A generativa de uma maneira rápida.”
Conexão REC’n’Play e o futuro digital

O Conexão REC’n’Play é um espaço contínuo de conversas sobre transformação digital e o impacto da tecnologia na sociedade. Cada edição traz convidados especiais – como pesquisadores, líderes, empreendedores e criativos – para discutir temas atuais como juventude, inovação, futuro do trabalho, cultura digital, sustentabilidade e muito mais.
Voltado para profissionais, estudantes, empreendedores e interessados no tema, o evento tem como proposta promover o diálogo sobre os desafios e oportunidades das novas tecnologias nas relações de trabalho.
O evento é também um esquenta do chamado “Carnaval do Conhecimento”. A proposta é aquecer os motores para o Rec’n’Play, que acontece de 15 a 18 de outubro, conectando pessoas aos temas que estarão em destaque durante o festival e atraindo público de dentro e fora da cidade.
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