FONTE: PANORAMA FARMACÊUTICO
Segue intensa a onda da recuperação judicial de distribuidoras de medicamentos. Agora são dez as empresas do setor envolvidas nesse cenário. Mais um capítulo da novela foi ao ar nesta sexta-feira, dia 24.
Desta vez, a Justiça deferiu o pedido da Call Med, distribuidora de Fortaleza (CE) que mantinha operações desde 2008, atendendo farmácias e também o canal hospitalar nas regiões Norte e Nordeste. Discreta nas aparições à imprensa, a companhia virou notícia no fim de 2023, ao ganhar uma liminar que impedia a concorrente Kalmed de utilizar esse nome como marca.
Na semana anterior, mais duas representantes do atacado farmacêutico tiveram a recuperação judicial aprovada. Uma delas foi a paulista Precision, com sede em Ribeirão Preto (SP) e atuação nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Sua especialidade é a distribuição de medicamentos hospitalares e de alta complexidade.
Já a gaúcha Stock Med, com base em Santa Cruz do Sul (RS), previu em seu acordo a quitação de R$ 51 milhões em dívidas. Os medicamentos oncológicos eram os carros-chefes da operação.
Recuperação judicial de distribuidoras tem passivos ainda maiores
A recuperação judicial de distribuidoras tem passivos ainda maiores, a exemplo da Medibras, que ingressou com o pedido em fevereiro deste ano e cujas obrigações somam R$ 100 milhões. A Comarca de Ribeirão Preto do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo chegou a determinar a realização de uma perícia para aferir a real situação da empresa de Araraquara (SP).
Mas o principal impacto para o setor foi a entrada da Servimed nesse clube. Com trajetória de 50 anos, a distribuidora de Bauru (SP) enviou um comunicado a fornecedores, parceiros e clientes, relatando acúmulo de dívidas na ordem de R$ 693 milhões. O montante inclui pendências não pagas e compromissos futuros.
E não é só isso. Outros R$ 35,2 milhões precisarão ser pagos pela companhia para honrar débitos tributários e trabalhistas. Entre as justificativas da Servimed estão as “dificuldades para ajustar sua estrutura de capital, especialmente por conta dos efeitos decorrentes da pandemia da Covid-19, como paralisação de fábricas, queda no volume de vendas e falta de insumos vindos da China, principal fornecedor de matérias-primas”.
A distribuidora de medicamentos citou ainda a alta da taxa de juros, que encareceu o crédito para capital de giro, e a guerra na Ucrânia. Argumentos similares foram utilizados também pela DP4, Rio Drog´s, Neosul, American Farma e Dislab, que entraram com pedido em 2023.
Recuperação judicial de distribuidoras expõe gargalos setoriais
A recuperação judicial de distribuidoras revela fissuras de um setor que convive com elevada concorrência, aumento de custos operacionais e estreitamento das margens.
Fontes ouvidas pelo Panorama Farmacêutico também ressaltam a retração na oferta de crédito como outro agravante. Não só o mercado financeiro, como também as indústrias farmacêuticas, vêm fechando as portas para novos financiamentos.
Em paralelo, o efeito cascata estende-se ao varejo farmacêutico independente, cuja rotina de alargar os prazos de pagamento vêm comprometendo o fluxo de caixa do atacado.
Mas na visão de Geraldo Monteiro, diretor executivo da Rede Integração Farma e com experiência também em entidades como ABCFARMA e Abradilan, não são apenas aspectos econômicos que explicam esse turbulência.
“Empresas que não se unirem em torno de uma parceria estratégica para negociações coletivas, buscando mecanismos e tecnologias para melhorar seus processos, estão fadadas a perder espaço diante de um mercado tão aguerrido”, adverte.
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