O complexo industrial portuário chega aos 45 anos como um dos principais motores do desenvolvimento econômico de Pernambuco e um case nacional de política pública bem-sucedida, com a atração de 80 empresas e geração de 17,5 mil empregos
Fernando Ítalo / FONTE: ME
O Complexo de Suape chega, aos 45 anos, nesta terça-feira (7), como a política pública de desenvolvimento econômico mais bem-sucedida de Pernambuco e um case nacional nesse âmbito. Idealizado pelo governo do estado nos anos 1960 e implementado a partir da década de 1980, Suape atraiu, até o momento, investimentos privados e públicos de R$ 74,5 bilhões. Ao todo, 80 empresas estão em operação no porto-indústria, responsável pela geração de 17,5 mil empregos.
Esses empreendimentos estão distribuídos em 12 polos de negócios de diversos setores, com destaque para granéis líquidos e gases, logístico, naval e offshore, refino de petróleo, petroquímico, de veículos, material de construção e metal-mecânico.
Desenvolvimento econômico: Suape é estratégico em combustíveis
Na indústria do petróleo, o complexo se destaca graças à Refinaria Abreu e Lima (Rnest), que vai receber investimentos de R$ 6 bilhões da Petrobras para a conclusão da planta. Com o aporte, a unidade vai atingir a capacidade máxima projetada e se consolidar como estratégica para o abastecimento de diesel S-10 e o desenvolvimento econômico do Nordeste.
“Com esse investimento, o primeiro trem da refinaria vai aumentar sua produção de 90 mil barris de petróleo por dia para 130 mil barris. Quando o segundo trem começar a operar, a capacidade de produção vai dobrar. Vamos para 260 mil barris/dia”, detalha o presidente do complexo, Márcio Guiot.
Já na construção naval e offshore, o complexo conta com dois estaleiros de última geração – Atlântico Sul Heavy Industry Solutions e Vard Promar – implementados com investimentos na casa dos R$ 2 bilhões, no ciclo de reativação do setor entre os anos 2000 e 2010.
Fortemente impactadas pela crise do segmento na segunda metade da década de 2010, essas plantas se preparam para uma nova fase de encomendas em alta, graças à retomada de investimentos em novas embarcações e desmonte de plataformas obsoletas, anunciados este ano pela Petrobras e Transpetro.
Braço logístico da holding Petrobras, a Transpetro sinaliza para a produção de petroleiros e outros tipos de embarcações, cujos contratos podem chegar a R$ 12,5 bilhões. Já a Petrobras prevê, até 2027, destinar R$ 9,8 bilhões ao desmantelamento de unidades no fim da vida útil.
Ainda na cadeia do petróleo/gás e áreas relacionadas, o complexo cumpre outro papel importante na segurança energética, graças à usina termoelétrica Termopernambuco, da holding Neoenergia. A planta a gás natural opera desde 2004 e, em 2021, firmou contrato para a venda de toda a capacidade instalada (498 megawatts) para o Sistema Interligado Nacional (SIN), de 2026 a 2041. A receita fixa será de R$ 207 milhões por ano.
Desenvolvimento econômico agora e no futuro
De olho no futuro do desenvolvimento econômico local e nas tendências mundiais de negócios, Suape vem se articulando para a integração ao mercado global de energia limpa.
O objetivo é atrair uma gama de negócios especialmente na área do “combustível do futuro”, o hidrogênio verde, matéria-prima com diversas aplicações na indústria e que deve ser produzida com zero emissão de carbono ao longo de todo o processo para ser classificada como H2V pelas entidades classificadoras internacionais.
O principal projeto no setor previsto para Suape é o TecHub, plataforma de pesquisa, desenvolvimento e inovação em hidrogênio verde. O empreendimento será voltado para a implementação de projetos nas áreas de produção, transporte, armazenamento e gestão.
Juntos, esses projetos receberão inicialmente investimentos de até R$ 45 milhões. A iniciativa é liderada pela CTG Brasil (uma das principais empresas de geração de energia limpa no país), em parceria com o Senai e o Governo de Pernambuco.
Suape também se volta para a instalação de outros polos de negócio no complexo, entre eles o farmacêutico. A Blau – gigante brasileira com presença nos Estados Unidos, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai – vai instalar uma planta industrial no complexo, que será a sexta do grupo no país.
A unidade está orçada em R$ 1 bilhão na primeira etapa, mas o valor pode chegar a R$ 3,5 bilhões quando o projeto estiver 100% concluído. A área total do empreendimento é de 64 hectares, em um terreno à margem da rodovia Rota do Atlântico, no município do Cabo de Santo Agostinho.
Desenvolvimento econômico puxado por navios
Na logística, o complexo deve ter novo impulso, com a construção de um segundo terminal de contêineres, que será implantado pela APM Terminals, braço da A.P Moller-Maersk, uma das líderes globais no transporte marítimo.
O empreendimento, orçado em R$ 1,6 bilhão, tem entrada em funcionamento programada para 2026, com estimativa de ampliar a movimentação de carga conteinerizada em Suape em 50%.
O terminal vai incrementar a infraestrutura portuária de Suape, que dispõe hoje de 785 mil metros quadrados de área alfandegada e conta com um terminal de contêineres da Tecon Suape (Grupo ICTSI), terminais de cargas gerais da Movecta (nova marca da Localfrio) e Wilson Sons, além de um porto seco da JSL.
No armazenamento de granéis líquidos, Suape soma de uma capacidade de tancagem de 700 mil metros cúbicos, distribuídos em cinco terminais de armazenamento de combustíveis. Dispõe ainda de dois pátios públicos, com capacidade para movimentar 250 mil veículos por ano.
Porto impulsiona desenvolvimento econômico
A infraestrutura portuária robusta integrada a polos fabris, a localização estratégica em relação ao Nordeste, à América do Norte, Europa e África e a inovação de processos e equipamentos são diferenciais competitivos que garantem a Suape uma posição importante entre os polos de desenvolvimento econômico do Brasil e entre os maiores portos do país.
De acordo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o Porto de Suape movimentou 17,8 milhões de toneladas de cargas de janeiro a setembro deste ano, se posicionando como o sexto atracadouro público brasileiro em volume de operação. No período, foram registradas 1.126 atracações, 2,6% a mais que no mesmo período de 2022.
Entre as cargas movimentadas em Suape se destacam os granéis líquidos e gases (12,3 milhões de toneladas), que representaram 69,5,1% (12,3 milhões de toneladas) do volume no acumulado de nove meses de 2023.
As cargas conteinerizadas (4,1 milhões de toneladas) aparecem em segundo lugar (23,5%), seguidas por granéis sólidos (860,9 mil t e 4,8% da movimentação) e carga geral solta (392,5 mil t e 2,2% do total).
Veículos alteram mix de carga
Em sua estratégia para diversificação do mix de carga, uma das grandes apostas de Suape é a movimentação de veículos. O porto abriga o maior hub do setor no Norte e Nordeste, com exportações, importações e transbordo que cresceram 52%, no comparativo entre janeiro e setembro deste ano com o mesmo período de 2022.
Ao todo, o hub movimentou 60.663 unidades de marcas e fabricantes diversos nestes nove meses, com destaque para as operações da ítalo-anglo-americana Stellantis. A gigante automobilística opera, desde 2014, um parque automotivo localizado a 110 quilômetros, no município de Goiana (ao norte do Grande Recife), mas também movimenta por Suape carros da marca Fiat produzidos em Betim (MG).
É com foco nesses pilares – crescimento do transporte marítimo de cargas, diversificação da base industrial e transição energética – que Suape se prepara, visando um novo ciclo de crescimento. Esses planos estão fortemente conectados a uma agenda ESG, determinante para a sobrevivência dos negócios, especialmente aqueles que operam em escala mundial, como é o caso do complexo.
Uma agenda que, aliás, está no DNA de Suape, pois o projeto já nasceu com a proposta de ser um porto-indústria cercado por um cinturão verde e cumprindo as melhores práticas de sustentabilidade, quando o termo ainda sequer havia se popularizado.
Como resultado, dos 13,5 mil hectares do empreendimento, 59% correspondem à Zona de Preservação Ecológica (Zpec). É com essa visão de negócio, alinhada com propósito, que o complexo se depara com os novos desafios, proporcionais a sua dimensão para o desenvolvimento econômico local. Como destaca a economista Tânia Bacelar, sócia na Ceplan Consuloria, “Suape continua sendo protagonista relevante e seu futuro se mantém estratégico para Pernambuco”.
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