m aumento de 200% na geração fóssil do Brasil entre 2000 e 2020

Ângela Fernanda Belfor / FONTE: ME

usina térmica
A geração fóssil das térmicas lança gases que contribuem para o aquecimento global Foto: Divulgação Aneel

A geração de energia utilizando combustíveis fósseis diminuiu 67% em 2022, segundo o “3º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas”, publicado, na semana passada, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). O preocupante é que a diminuição ocorreu somente porque houve uma melhora das condições hídricas com mais água nos reservatórios das principais hidrelétricas do País. Ou seja, ainda é São Pedro que dita se o Brasil vai consumir mais energia renovável ou não. 

Somente lembrando, foram acionadas várias térmicas em 2021 por causa da estiagem que reduziu o volume de água das principais hidrelétricas. A redução da geração fóssil também ocorreu porque houve um aumento da geração de energia produzida pelas eólicas e usinas solares fotovoltaicas.

O documento  também diz que a geração térmica do País é um risco para os planos de descarbonização do Brasil “rumo a uma matriz 100% renovável e para a melhoria da qualidade do ar”. Atualmente, é unanimidade no Brasil a necessidade de fazer uma descarbonização da economia, como já afirmou o presidente Lula; o seu vice, Geraldo Alckmin; e até o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. A descarbonização inclui a redução – até a eliminação total – dos gases que contribuem para o aquecimento global. O Brasil também deve cumprir os compromissos que assumiu, nos acordos internacionais, de reduzir as emissões.

 Existem 72 térmicas produzindo energia de origem fóssil ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), que fornece energia para quase 100% dos brasileiros. Elas respondem por 10% da matriz elétrica brasileira, sendo o mesmo percentual há 20 anos. Ainda de acordo com o relatório, a geração fóssil aumentou 200%, saindo de 30,6 Terawatt-hora (TWh) em 2000 para 91,8 TWh em 2020. O TWh é uma unidade de medida da energia equivalente a mil gigawatt-hora. Isso implicou num crescimento de 113% nas emissões dos gases do efeito estufa. E o mesmo documento ainda diz que há uma tendência de aumento da geração fóssil no País no médio prazo. 

 Estas térmicas foram implantadas com a garantia da compra de energia por prazos longos e estes contratos não podem ser quebrados, porque, juridicamente, isso seria péssimo para o setor de energia e para o País. “A lógica é que não se renove a energia das térmicas”, explica o presidente da Singular Comercializadora de Energia, Eduardo Azevedo. Segundo ele,  existem maneiras de diminuir a dependência das térmicas, mas hoje não se tem esta infraestrutura pronta. 

Isso pode ocorrer, de acordo com Eduardo, basicamente de duas maneiras com mais linhas de transmissão que facilita trazer energia de um lugar onde está ocorrendo excedente de geração para outro que está precisando de energia. A segunda forma seria o armazenamento em baterias que podem armazenar grandes quantidades de energia.

Com grande experiência no setor elétrico, Eduardo Azevedo argumenta que as tecnologias de geração e armazenamento evoluíram e existem conceitos que precisam ser revistos no setor elétrico. Foto: arquivo pessoal

Eduardo lembra que durante muito tempo as “fontes que eram consideradas despacháveis”, seguras no fornecimento de energia eram as hidrelétricas e as térmicas,  “mas as tecnologias de geração e armazenamento de energia e as demandas da sociedade evoluíram e este conceito precisa ser revisto”.

Acompanhando o setor há mais de duas décadas, Eduardo argumenta que para uma usina termelétrica entrar em regime permanente de operação, ela precisa ser acionada alguns minutos ou até mesmo horas antes do momento em que é efetivamente demandada, consumindo combustível e emitindo poluentes. E complementa: “devido aos custos de partida e restrições técnicas, uma vez em operação as termicas precisam ficar ligadas por um número mínimo de horas (ou até dias), o que impõe ao sistema uma energia mais cara e suja, sem os benefícios que elas se propõe a oferecer. Já as baterias, podem ser acionadas em frações de segundos e desligada a qualquer momento”.

Isso explica porque vários técnicos do setor já dizem que sairia mais barato armazenar a energia em baterias do que gerar em térmicas que são ineficientes e deixam a energia muito mais cara para o consumidor final. Ele conclui que “se contabilizados os custos totais de pré-operação e operação desnecessária das UTEs, as baterias já são mais baratas, hoje”. Eduardo acompanha o setor há mais de duas décadas e já ocupou cargos como ex-Secretário Executivo de Energia de Pernambuco e ex-Secretário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento Energético.

Relatório do IEMA

estudo mostrou que as térmicas a gás natural são 41, correspondem a 75% das térmicas do SIN e produziram 23,3 TWh. Isso é bom porque o gás natural é menos poluente do que outras fontes fósseis. Ainda nas termelétricas, a segunda maior participação é o carvão mineral, que responde pela geração de 6,9 TWh, representando 22% da produção de eletricidade fóssil. O aumento proporcional do emprego de termelétricas a carvão ocasionou uma elevação de 9% na taxa de emissão média dos gases que contribuem para o aquecimento global.

Em 2022, as quatro usinas que lideram a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) usaram o carvão mineral e estão localizadas no Sul do país. Neste cenário, se destaca a térmica Candiota III, no Rio Grande do Sul, que sendo a quinta maior geradora no ano passado, foi a maior emissora deste tipo de gáses, responsável por 12% das emissões de todo o parque termelétrico que fornece energia para o SIN. 

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