O governo de Pernambuco e o Ministério dos Transportes analisam como será a nova modelagem para o trecho ferroviário Salgueiro-Suape.
Da Redação ME
Por Ângela Fernanda Belfort e Patrícia Raposo
A desistência do Grupo Bemisa de construir a Estrada de Ferro do Sertão (EF-233), ramal ferroviário que ligaria a cidade de Curral Novo, no Sul do Piauí, ao Porto de Suape, repercutiu forte no meio empresarial pernambucano. Boa parte do traçado desta ferrovia era similar ao da Transnordestina. Os empresários planejam fazer uma reunião na sede do CREA, no Recife, na próxima segunda-feira para discutir a situação do ramal ferroviário em Pernambuco.
“Entendo a desistência da Bemisa. Não faz sentido ter duas ferrovias paralelas, principalmente num país carente de estradas de ferro como o Brasil. Cabe agora um trabalho de articulação do governo do Estado junto a Bemisa e com o governo federal para retirar coisas que podem atrapalhar uma nova concessão”, resumiu o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger.
Para Essinger, se não houver um trabalho bem articulado, a Bemisa “vai acabar vendendo a mina barata para a CSN”. Ele acrescenta que não há porto desenvolvido sem uma ferrovia. A carga de minério de ferro da Bemisa é um dos fatores que dá viabilidade econômica ao futuro ramal pernambucano. A CSN tem muito interesse em concluir o ramal cearense, porque já atua naquele mercado e planeja investir R$ 2,35 bilhões em quatro terminais de minérios, grãos, fertilizantes e contêineres no Porto de Pecém.
Sucateamento da ferrovia
O Presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiepe, Fernando Teixeira, diz que o ramal ferroviário de Pernambuco é fundamental para fazer a integração regional, com estados mais próximos como Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte. “Esta malha ferroviária já existiu”, lembrou o empresário. A então Malha Ferroviária do Nordeste ligava a cidade de Porto Real do Colégio, em Sergipe, até a cidade do São Luís, no Maranhão, virou uma concessão da CSN em 1997 com a promessa de aumentar a movimentação de carga, o que não ocorreu. A CSN deixou desmontar toda essa infraestrutura, que era antiga, mas usada pelas empresas da região.
Nova modelagem
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, explica, porém, que antes mesmo da renúncia da Bemisa ocorrer, os representantes do governo de Pernambuco já vinham analisando junto com o Ministério dos Transportes qual seria a modelagem para viabilizar o ramal da ferrovia que ligará o sertão ao litoral pernambucanos. “A desistência da Bemisa foi necessária para abrir caminho para uma nova modelagem que contempla esse trecho”, disse Cavalcanti.
Para essa nova modelagem, ele diz que há várias possibilidades. “Não descartamos nenhuma alternativa. Pode ser uma concessão, um chamamento público ou mesmo a opção de o governo federal delegar o trecho ao estado, como faz com os portos”, disse o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti.
Ele assegurou ao Movimento Econômico que a governadora Raquel Lyra tem estado pessoalmente à frente das negociações. Nesta quarta-feira, a governadora Raquel Lyra tem nova reunião com a bancada federal e senadores para tratar da Transnordestina.
“A governadora conseguiu garantir algo muito importante: os R$ 450 milhões no Novo PAC para que a obra siga em atividades”, ressaltou. Os R$ 450 milhões vão sair do Orçamento Geral da União (OGU) e serão usados para fazer projetos executivos do trecho Salgueiro-Suape, como revelou ao Movimento Econômico, o superintendente da Sudene, Danilo Cabral.
Lamentos
“Era uma oportunidade o ramal da Transnordestina. Não só para escoar a produção, mas para receber os insumos. Já estávamos começando em pensar em usar o gás natural que viria pela ferrovia. Fiquei triste”, diz o presidente do Sindicato da Indústria do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), Jefferson Araújo Duarte.
O polo gesseiro do Araripe é responsável pela produção de 97% do gesso consumido no Brasil e enfrenta muitos problemas logísticos para escoar a sua produção. “Para embarcar uma tonelada de gesso para São Paulo, pagamos o preço médio do frete de R$ 350, enquanto a gente vende, em média, uma tonelada de gesso por R$ 240”, cita Jefferson.
Segundo ele, a entrada em operação da ferrovia também poderia fazer as empresas do Araripe substituírem a lenha pelo gás natural. A fonte energética usada pelos fornos da indústria gesseira também é outro problema do setor, que não consegue usar energia elétrica pelo alto custo deste bem.
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