FONTE: ME
Lideranças econômicas defendem articulação suprapartidária para evitar perda de competitividade
De Recife angela.belfort@movimentoeconomico.com.br

Vários empresários, economistas e cientista políticos se manifestaram um dia após o Movimento Econômico publicar a matéria Pernambuco travado: a urgência de um pacto pela retomada do protagonismo, se referindo ao embate político que está ocorrendo na Assembleia Legislativa entre a oposição e aliados da governadora Raquel Lyra (PSD). O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Bruno Veloso, disse que o “investimento privado não espera e, caso as condições de infraestrutura não melhorem, o investidor se instala em outros lugares”.
Ele disse estar “indignado”, se referindo ao impasse entre partidos de apoio ao governo de Pernambuco e a oposição, que está travando pautas que precisam avançar no estado, como os empréstimos que serão empregados em obras de infraestrutura. “O governo do Estado deve buscar um entendimento com a Assembleia de todas as formas. Estamos muito preocupados com a questão”, comentou. .

Ceará como exemplo
Bruno disse ainda que é preciso unir politicamente o Estado para que os investimentos aconteçam e faz uma comparação com o Ceará. “Lá, todos se unem, independente do partido político, e vão atrás dos recursos”, afirmou. E acrescenta: “Não se pode usar a política para travar investimento. Deveríamos ter a política como uma força para atrair o investimento”.
Sócio diretor da Ceplan Consultoria, o economista Jorge Jatobá também lembra do Ceará quando vê os conflitos políticos em Pernambuco. “O Ceará conseguiu unir forças políticas adversas, associar-se à sociedade civil, especialmente às empresas, via Federação das Indústrias do Ceará, e o Estado conseguiu avançar em várias dimensões do desenvolvimento de infraestrutura, conectividade digital, entre outras questões”, afirmou.
Para Jatobá, a falta de união política “sempre” traz impacto na economia, porque dificulta a captação de recursos, a obtenção de empréstimos que necessitam de aprovação legislativa e “esses conflitos por motivações políticas de curto prazo, às vezes até de caráter eleitoral, terminam comprometendo o desenvolvimento do Estado”.
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O economista cita que a união política é importante para tratar questões pendentes de longo prazo e cita o Arco Metropolitano, a Ferrovia Transnordestina, entre outros investimentos estruturadores que o Estado precisa e que dependem muito da aprovação legislativa e de harmonia entre o Poder Executivo e o Legislativo. “Isso não está acontecendo”, lembrou.
União pela Transnordestina
O economista recorda que a articulação feita por parlamentares do Ceará e do Piauí, que acabou conseguindo mais recursos a serem empregados no trecho cearense da Ferrovia Transnordestina. Na época, a bancada pernambucana de deputados federais, estaduais e senadores estava ausente do debate do trecho pernambucano da Transnordestina em Pernambuco.
Segundo Jatobá, os embates da Câmara Federal mostram que esses conflitos ideológicos, ou mesquinhos, ou o processo eleitoral de curto prazo, comprometem o desenvolvimento do País, bloqueando avanços legislativos, normativos, programas e projetos de investimentos que visam desenvolver o país. “Isso se aplica a Pernambuco também. Quando temos políticos olhando para seus próprios umbigos, para seus interesses de curto prazo, sobretudo os eleitorais, eles acabam por dificultar a formação do consenso para o desenvolvimento do Estado”, contou. E conclui: “Falta a prevalência do interesse público”.
Também sócia-diretora da Consultoria Ceplan, a economista Tânia Bacelar diz que “a disputa é normal na democracia, mas ela não pode prejudicar o interesse da maioria”. E continua: “Quando a disputa é entre poderes do Estado e leva à polarização ( tendência do momento no Brasil e em PE) , a sociedade civil organizada precisa tomar uma atitude, ser protagonista, para fazer prevalecer o interesse da maioria”.

Empresário lembra do ciclo de ouro Eduardo-Lula
O presidente da empresa MV, o empresário Paulo Magnus, que vive em Pernambuco há mais de 30 anos, diz que sempre ouviu falar que “Pernambuco tinha os mais importantes políticos do Brasil como Miguel Arraes, Inocência Oliveira, Marco Maciel, Roberto Magalhães, Carlos Wilson, entre outros”, que se materializaram como lideranças expressivas nacionais. “Mesmo assim, os outros Estados do Nordeste tiveram um crescimento muito mais expressivo e deixaram Pernambuco para trás em muitas coisas”, disse, argumentando que não percebe uma decisão de todos (os políticos) se unirem para apoiar o desenvolvimento e buscar os recursos para fazer as transformações.

Nestes últimos 30 anos, ele diz que teve apenas um momento em que houve “o ciclo de ouro” no crescimento do Estado, que foi a união do presidente Lula com o então governador Eduardo Campos. “Este foi o único ciclo de ouro. Carece sim de uma junção de todos em prol de um Pernambuco muito mais forte, seja empresários, políticos e todas as pessoas que poderiam ter influência para transformar isso. Estamos precisando, porque a gente está vendo que tem que melhorar a infraestrutura”.
Magnus defende um pacto político-empresarial para unir forças em prol de uma agenda mínima para o Estado. Nesta agenda mínima, está o Arco Metropolitano, que deveria ser a prioridade número 1. “Todos deveriam colocar as mãos e resolverem este problema”, argumentou. “Então só tem uma alternativa: união, olhar, entender e construir cenários que os outros já fizeram em outros lugares”, comentou, acrescentando que precisam ser construídas boas estradas para levarem os turistas para o litoral Norte e Sul do Estado. “Essas estradas já foram construídas em Estados vizinhos, como Alagoas, Bahia e Ceará”, ressalta. A MV tem sede no Recife e é uma multinacional líder na transformação digital da saúde.
O Arco Metropolitano evitaria os constantes engarrafamentos da BR-101, construindo uma alça que vai ligar Suape até as imediações de Goiana. O governo do Estado está licitando a parte sul do Arco Metropolitano depois de descumprir vários prazos anunciados. Agora, a demora é burocrática, porque estão sendo cumpridos as etapas estabelecidas no edital de licitação. Mas a parte norte do Arco ainda não tem data prevista para a licitação das obras.
Projeto de Estado
“A gente perde oportunidade até para João Pessoa por causa dos engarrafamentos da BR-101. Falta uma estratégia econômica de desenvolvimento. Tem que ter um projeto do Estado e não do governo. Infraestrutura é fundamental e tecnologia também”, comenta o diretor da Procenge, José Claudio Oliveira. A Procenge foi uma das primeiras empresas a se instalar no Porto Digital e se consolidou como fabricantes de softwares tipo ERP.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon-PE), Antonio Claudio Sá Barreto Couto, também argumentou que “o setor produtivo e político devem se unir, sem conotação partidária, para conseguir alavancar os investimentos do Estado e ter êxito, sendo importante que que cada um permaneça na sua esfera de atuação: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário”.
Ele cita que o trecho pernambucano da Transnordestina e o Arco Metropolitano deveriam ser prioritários entre os investimentos a serem realizadas. “Nunca é tarde para conseguir uma união dos políticos em prol do Estado”, falou. Ele faz parte de um grupo de infraestrutura, criado pela Fiepe, com objetivo de acompanhar a implantação de obras consideradas estruturadoras para o Estado.

Instabilidade institucional
O cientista político e professor Hely Ferreira avalia que o impasse entre o Executivo e o Legislativo em Pernambuco afeta negativamente a percepção de estabilidade institucional no Estado. Para ele, o desalinhamento entre as agendas políticas e administrativas dos dois Poderes gera insegurança, principalmente para o setor empresarial, que tende a adiar investimentos diante da falta de previsibilidade e cooperação no ambiente político.
Hely também destacou que a recente declaração da governadora, sobre a necessidade de prorrogar o prazo para a liberação de um empréstimo de R$ 1,7 bilhão, pode reforçar a percepção de dificuldades operacionais no governo. Segundo o professor, a incapacidade do Executivo em acelerar a execução de recursos já aprovados levanta dúvidas sobre sua capacidade de gestão e articulação política, o que compromete a imagem administrativa do Estado.
*Colaborou Márcio Didier
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