Empresários dizem que obras fundamentais para o desenvolvimento de Pernambuco seguem atoladas em um pântano de interesses eleitorais
De Recife patricia.raposo@movimentoeconomico.com.br / FONTE:ME

Em meio a uma crescente tensão entre os poderes públicos de Pernambuco, a sociedade civil organizada começa a erguer a voz em nome do bom senso e da retomada do desenvolvimento. Em entrevista exclusiva ao Movimento Econômico, o empresário Halim Nagem, presidente do movimento Atitude Pernambuco, compartilhou um retrato da frustração que permeia o setor produtivo diante do que entende ser um Estado paralisado por disputas políticas.
“A gente trabalha pelo Estado enquanto Estado”, enfatiza Halim, ao explicar que o Atitude PE nasceu para ser uma ponte entre a sociedade civil economicamente ativa e os gestores públicos, independentemente de quem esteja no poder. Mas há um embate institucional que escalou perigosamente entre a Assembleia Legislativa e o Governo do Estado, e que começa a contaminar a ambiência de negócios e travar projetos estratégicos para Pernambuco — um embate que envolve partidos e candidatos ao pleito de 2026. “Estamos num ambiente eleitoral antecipado, envolvendo as diversas esferas de poder, e isso é muito ruim”, disse.
Segundo Halim Nagem, o ambiente que antes era marcado por disputas entre empresários — o famoso “puxar a perna do outro” — hoje foi superado dentro da iniciativa privada. “Quem trabalha, cresce”, diz, indicando que a mentalidade empresarial amadureceu. Ele observa que a política local parece não ter acompanhado essa evolução. O que se vê, segundo Halim, é uma politização tóxica em torno de temas estruturantes que deveriam estar acima de qualquer ideologia.
Projetos como a Transnordestina, a duplicação da BR-232, o Arco Metropolitano e a implantação da Escola de Sargentos são fundamentais para o desenvolvimento de Pernambuco e, no entanto, seguem atolados em um pântano de interesses eleitorais. “Essas obras vão atravessar governos. Elas não são de direita, esquerda ou centro. São de Pernambuco”, alerta Halim.
Ele lembra que o ex-deputado Danilo Cabral, durante o lançamento do Fórum Permanente de Infraestrutura, promovido pela FIEPE em março, foi um dos primeiros a dizer publicamente que era hora de “deixar a política da porta para fora”. “O recado foi dado, mas ainda encontra resistência. A disputa, que deveria ser por eficiência e resultados, virou uma antecipação de eleições que não começaram oficialmente, mas que já contaminam o debate público”, sustenta o empresário.
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Para o presidente do Atitude PE, é preciso que todos os atores — governo estadual, prefeituras, Assembleia, partidos e até órgãos federais e o Judiciário — se sentem à mesa com um propósito comum: destravar Pernambuco. “Não existe social sem econômico. Não existe social sem educação”, resume. A ambiência que se quer criar para atrair investimento e turismo exige infraestrutura, segurança e planejamento — e isso só será possível com cooperação institucional.
Halim ressalta que chegou a hora de Pernambuco entender que o futuro não pode mais ser adiado em nome de uma eleição antecipada. O custo da inércia será pago em atraso econômico, desemprego e perda de oportunidades. “Precisamos de uma bandeira branca em Pernambuco. E isso é urgente”, disse.
Empresários de Pernambuco se manifestam
Paulo Perez, Grupo BCI
“Estamos cansados dessa falta de senso de pressa. O tempo passa e não há avanço”, reclama Paulo Perez, diretor do Grupo BCI, que também decidiu se manifestar publicamente.
Manoel Ferreira, Agemar
“Quando o mar briga com as pedras, quem sofre é o marisco — e, nesse caso, o marisco somos nós”, disse Manoel Ferreira, presidente da Agemar. Usando a metáfora, ele manifesta sua insatisfação e reclama, por exemplo, da demora em se resolver os engarrafamentos na BR-101 — um transtorno diário para quem precisa se deslocar entre Recife e Suape. Problema que poderia ser mitigado com obras há muito aguardadas, como o Arco Metropolitano e a intervenção no km 84 da BR-101, próximo à fábrica da Vitarella. Obra que, inclusive, teve seus projetos básico e executivo financiados pelo Atitude Pernambuco e ainda não saiu do papel.
Ricardo Heráclito, CIEPE
O presidente da CIEPE, o ex-deputado federal e empresário Ricardo Heráclito, também atribui o atraso nas obras em Pernambuco à desarticulação política. Ele aponta fuga de investimentos para outros estados, “onde empresários encontram ambiente mais ágil e eficiente”. Para ele, o Brasil vive uma crise generalizada de poderes, e Pernambuco “entrou na mesma ciranda”. Heráclito defende “mais união, escuta técnica e menos vaidade política”.
Danilo Cabral
“Com sete ministros no governo federal, além de uma bancada federal numerosa, Pernambuco precisa transformar seu potencial político em alavanca para destravar obras, captar recursos e integrar suas demandas ao planejamento nacional — e isso requer ação articulada”, diz o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, que foi um dos primeiros a falar em “integração” para defesa dos interesses do Estado. Disse isso em evento na FIEPE, e suas palavras chamaram a atenção do empresariado. Ele defende que a FIEPE seja protagonista na articulação pró-Pernambuco.
Bruno Veloso – FIEPE
Apontada pelos empresários como a entidade ideal para conduzir uma mobilização em torno dos projetos prioritários de Pernambuco, a FIEPE já se posiciona como tal. “Estamos tão atentos a esse cenário desfavorável que criamos, em março passado, o Fórum Permanente de Infraestrutura”, disse Bruno Veloso. Esse fórum tem o objetivo de monitorar as obras e projetos, cujo mapeamento — que está sendo feito pela Deloitte — será lançado numa plataforma aberta, para consulta pública. Veloso garante que a Federação das Indústrias não ficará só no discurso: “Iremos agir para mobilizar os atores envolvidos no que estiver travando qualquer avanço”.
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