Análise relaciona testes clínicos que exigiram desembolsos milionários e geraram insucesso

porGabriel Noronha / FONTE: PANORAMA FARMACÊUTICO

Nenhuma companhia gostaria de estar em uma lista que cita os principais fracassos da indústria farmacêutica no ano. Mas fatores como a grande expectativa investida em novos fármacos e os altos valores desembolsados durante seu desenvolvimento podem garantir uma posição nesse ranking.

A maior parte dos medicamentos envolve doenças especialmente complexas, como esquizofrenia e o Alzheimer, o que eleva o interesse público, ao mesmo tempo em que encarece processos de pesquisa e produção. As informações são do portal Fierce Pharma.

Confira 10 fracassos da indústria farmacêutica em 2024 

  1. Emraclidine
  • Indicação: esquizofrenia
  • Farmacêutica responsável: AbbVie
  • Modalidade: modulador alostérico positivo seletivo M4

AbbVie garantiu acesso à molécula após adquirir a Cerevel Therapeutics por US$ 8,7 bilhões (R$ 49,75 bilhões) em agosto de 2024. O investimento, no entanto, provou-se pouco produtivo 100 dias depois, quando a farmacêutica confirmou a reprovação do fármaco na segunda fase de testes contra a esquizofrenia.

O prejuízo foi calculado apenas em 2025, quando a empresa assumiu uma provisão para perdas de US$ 3,5 bilhões (R$ 20 bilhões), reduzindo pela metade o valor dos ativos intangíveis da aquisição da Cerevel. A farmacêutica, porém, ainda não perdeu as esperanças. Roopal Thakkar, diretor científico da AbbVie, revelou planos para que o medicamento seja utilizado como complemento a terapias já existentes

  1. Fordadistrogene movaparvovec 
  • Indicação: distrofia muscular de Duchenne (DND)
  • Farmacêutica responsável: Pfizer
  • Modalidade: terapia genética

Preocupações relacionadas ao nível de segurança sempre afetaram a confiança de analistas quanto à possibilidade desse medicamento ultrapassar a terceira fase de testes clínicos. Essa etapa teve início entre crianças de quatro a sete anos, até que, em maio, um dos pacientes sofreu um ataque cardíaco e não resistiu. O incidente resultou na suspensão do programa, um mês antes de a Pfizer revelar que a terceira fase não atingiu suas metas primárias.

O insucesso gerou prejuízo de US$ 230 milhões (R$ 1,3 bilhões) e forçou até demissões de 150 colaboradores dedicados a esse projeto na planta localizada no estado norte-americano da Carolina do Norte. Mikael Dolsten, diretor científico da Pfizer, chegou a afirmar que a Fordadistrogene movaparvovec era a “bola da vez”, depois de testemunhar o fiasco da pesquisa do medicamento concorrente Elevidys

  1. Losmapimod
  • Indicação: distrofia muscular facioescapuloumeral
  • Farmacêutica responsável: Fulcrum Therapeutics/Sanofi
  • Modalidade: inibidor da proteína quinase ativada por mitógeno p38α/β

Sanofi adquiriu os direitos do Losmapimod fora dos Estados Unidos por US$ 80 milhões. A compra foi oficializada três meses antes da divulgação dos resultados do fármaco na terceira fase de testes, momento em que um veredicto positivo poderia multiplicar seu valor de mercado.

Quatro meses após a aquisição, a reprovação do tratamento foi oficializada. O rombo superou US$ 80 milhões (R$ 455 milhões) e motivou a Fulcrum a alterar completamente seu foco, demitindo 40% de seus profissionais.

  1. Dalzanemdor
  • Indicação: Alzheimer, Huntington e Parkinson
  • Farmacêutica responsável: Sage Therapeutics
  • Modalidade: modulador alostérico positivo para receptor NMDA

A Sage Theraupeutics teve um ano difícil, principalmente quando o assunto é o Dalzanemdor. Em uma sequência de sete meses o fármaco foi reprovado na segunda fase de testes para o tratamento de Parkinson, Alzheimer e, posteriormente, Huntington. A sequência de resultados adversos resultou em um momento de instabilidade, atenuado por uma proposta de compra da Biogen, sua parceira e investidora.

  1. Ocedurona 
  • Indicação: doença renal crônica
  • Farmacêutica responsável: Novo Nordisk
  • Modalidade: antagonista do receptor mineralocorticoide não esteroide

Investimento de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,4 bilhões) e potencial para rivalizar com o Kerendia, da Bayer. Esses atributos foram ressaltados publicamente pelo vice-presidente executivo da Novo Nordisk. Após três meses, o medicamento não passou na fase 3 do ensaio clínico, o que resultou em um prejuízo de US$ 816 milhões (R$ 4,6 bilhões)

  1. GSK3943104 
  • Indicação: vírus da herpes simples
  • Farmacêutica responsável: GSK
  • Modalidade: vacina de proteína recombinante

Em uma tentativa de combate à herpes genital, condição que afeta 500 milhões de pessoas globalmente, a GSK apostou em um novo projeto de vacina (GSK3943104). Mas o laboratório britânico aboliu a ideia após dados evidenciarem sua incapacidade na redução dos episódios da doença

  1. Vibostolimab
  • Indicação: melanoma de alto risco ressecado
  • Farmacêutica responsável: MSD
  • Modalidade: anticorpo anti-TIGIT

Os anticorpos anti-TIGIT, anteriormente apontados como o futuro da imuno-oncologia, sofreram com um ano difícil. A primeira versão da MSD foi descontinuada antes mesmo da terceira fase, por uma sequência de “experiências adversas”.

Três meses depois a farmacêutica sofreu um novo revés, com o fracasso do combo de TIGIT e Keytruda voltado ao tratamento de câncer nos pulmões. Os estudos atestaram a ineficácia da terapia para aumentar as taxas de sobrevivência e reduzir os efeitos adversos. No fim de 2024, a MSD ainda anunciou que outras duas versões do fármaco também estariam prestes a falhar uma nova etapa de testes, optando pelo encerramento total do programa

  1. Simufilan 
  • Indicação: Alzheimer em estágio leve a moderado
  • Farmacêutica responsável: Cassava Sciences
  • Modalidade: Proteína Filamina A

O candidato a tratamento para o Alzheimer acumulou polêmicas e fracassos ao longo de seu desenvolvimento. O primeiro episódio da confusa saga envolveu um acordo de indenização de US$ 40 milhões (R$ 227,8 milhões), após uma executiva da companhia remover 40% dos participantes de um teste de memória, criando resultados distorcidos na segunda fase de testes.

Sem admitir ou negar as alegações, a farmacêutica avançou para a terceira fase, onde foi incapaz de apresentar melhorias concretas nas escalas mentais e funcionais de pacientes em tratamento, comparados com o grupo de controle que recebia um placebo. A reprovação impactou diretamente as ações da empresa, que chegaram a cair 85% em um só dia. A corda estourou para os colaboradores, com dez profissionais demitidos

  1. Xevinapant
  • Indicação: carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço  
  • Farmacêutica responsável: Merck
  • Modalidade: inibidor da proteína de apoptose

O 2024 da Merck parecia muito promissor com dois potenciais sucessos de vendas mostrando bons indícios em seus primeiros ensaios clínicos. A primeira derrota veio com o inibidor de BTK evobrutinib, reprovado por duas vezes na fase 3.

O primeiro tropeço colocou ainda mais pressão sobre o Xevinapant, que teve seu insucesso classificado como “improvável” pela farmacêutica semanas antes de a companhia ser forçada a admitir o fracasso das pesquisas. O tratamento não atingiu a meta de prolongamento da vida de pacientes com tumores na cabeça e no pescoço.

  1. Suzetrigine
  • Indicação: radiculopatia lombos-sacral dolorosa
  • Farmacêutica responsável: Vertex Pharmaceuticals
  • Modalidade: inibidor do sinal de dor NaV1.8

Diferentemente dos casos anteriores, a Suzetrigine avançou em todos os testes clínicos e chegou a receber aprovação do FDA no início de 2025. Sua inclusão na lista é explicada apenas por uma reação do mercado a um de seus resultados, que se mostrou altamente nocivo.

Durante um estudo com 102 pessoas, o fármaco apresentou uma redução de 2,02 pontos na escala de dor dos pacientes. O valor, apesar de acima do necessário para aprovação, foi similar ao 1,98 registrado entre o grupo de placebo. A proximidade causou desconfiança entre os investidores, resultando em uma queda de 15% nas ações da Vertex no dia da divulgação.

Categorias: SINFACOPE

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