Rede Impacta Bioeconomia, numa etapa inicial, vai atuar no polo Petrolina-Juazeiro e Zona da Mata de Pernambuco, mas, de forma faseada, será expandida a todo o Nordeste
Da Redação ME / FONTE: ME
Por Fernando Ítalo e agências
Para incentivar a bioeconomia na região, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) anunciou, nesta segunda-feira (29), uma parceria com as universidades federais de Pernambuco (UFPE) e Vale do São Francisco (Univasf). O programa é voltado para a produção de cosmésticos, suplementos, insumos farmacêuticos e medicamentos em comunidades de agricultura familiar sustentável. Duas cooperativas – na Bahia e Pernambuco – já foram mapeadas para o início do trabalho.
Chamado de Rede Impacta Bioeconomia, o acordo visa estímular a inovação e pesquisa no setor e também a produção de remédios de origem vegetal em núcleos rurais que adotam práticas agroecológicas.
A ideia é apoiar projetos que contribuem para a convivência sustentável entre o homem e a fauna e flora dos três principais biomas existentes nos estados nordestinos: caatinga, mata atlântica e cerrado.
“Essa iniciativa fala para a inovação, a sustentabilidade, o meio ambiente e a nova política industrial brasileira. Nós queremos apoiar a geração de bioeconomia, enxergando o território, a biodiversidade e o desenvolvimento sustentável do Nordeste e demais área que incetivamos”, afirma o superintendente da autarquia, Danilo Cabral.
Ele destaca que a identificação de biomedicamentos e cadeias de valor para o aumento da produção, beneficiamentos diversos e geração de renda para a população dialoga diretamente com o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE) 2024-2027, lançado pela Sudene em junho do ano passado.
Bioeconomia na saúde 4.0
Coordenadora da rede e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Positiva do Complexo Industrial da Saúde 4.0 (INCT TEC CIS 4.0), Mônica Felts, explica que a parceria vai promover o desenvolvimento de bioativos e bioinsumos que possam ser extraídos de forma sustentável do território beneficiado, gerando renda, industrialização, desenvolvimento socioeconômico e proteção ambiental”.
Ela frisa que “haverá um movimento de transição até o programa chegar à produção de medicamentos”.
“Aproveitando o fato das primeiras cooperativas mapeadas já atuarem nesse segmento, vamos trabalhar, numa primeira etapa, com suplementos funcionais e alimentares, defensivos agrícolas, cosméticos inteligentes, bioinsumos funcionais e bioinsumos farmacêuticos ativos“, detalha.
“Numa segunda fase, entraremos na produção de biomedicamentos”, acrescenta.
Bioeconomia terá apoio para a pesquisa
O pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFPE, Pedro Carelli, ressalta que “a rede é uma ação estratégica, com metodologia de ciclo completo, que inclui pesquisa para geração de produtos a partir da biodiversidade, atuação nas pequenas comunidades, consultoria técnica para as cooperativas e geração de cadeias de valor”.
“A região amazônica está bastante em evidência, mas precisamos também olhar com atenção para a caatinga, um bioma muito diverso, de uma riqueza enorme”, aponta.
“A biodiversidade é discutida há muito tempo no Brasil, mas ainda estamos muito aquém em termos de pesquisa, práticas e tecnologias focadas em utilizar esse potencial para agregação de valor econômico e desenvolvimento do país”, analisa.
Impacta Bioeconomia tem 6 linhas de atuação
Com um investimento inicial de R$ 553,7 mil da Sudene, a Rede Impacta Bioeconomia tem seis linhas de atuação. Três são centradas em bioinsumos derivados do umbu, maracujá-da-caatinga, pitanga, acerola e melão-de-são-caetano. O quarto eixo é dedicado à criação de defensivos agrícolas sustentáveis, o quinto ao desenvolvimento de cadeias de valor e o sexto, à produção de mel de abelhas orgânico.
Identificação das cooperativas é o primeiro passo
A estruturação da Rede Impacta Bioeconomia vai começar pela identificação das organizações socioprodutivas (associações e cooperativas) com maior nível de solidez para trabalharem como parceiros do programa.
No lançamento, o mapeamento será realizado na Região Integrada de Desenvolvimento Petrolina-Juazeiro e na Mata Atlântica. Mas, de forma faseada, a iniciativa será expandida a todo o Nordeste, o que vai demandar parcerias com outras instituições da área acadêmica.
Para o start da rede, duas cooperativas foram selecionadas previamente: a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) e a Cooperativa de Trabalho Agrícola, Assistência Técnica e Serviços (Cooates).
Conheça as cooperativas selecionadas
A Coopercuc , com sede em Uauá (BA), a 427 km de Salvador, surgiu da decisão de um grupo de 44 ativistas em movimentos sociais de se organizar como núcleo de produção extrativista e de comercialização. Atualmente, a cooperativa trabalha com uma linha de itens diversos – bebidas, doces, compotas, sucos, polpas e geleias – tendo como matérias-primas principais o umbu e o maracujá-da-caatinga.
A Cooates, localizada em Barreiros (PE), a 108 km do Recife, tem 24 anos e também já nasceu com uma cultura ambientalmente correta – produzindo mel e própolis – e de desenvolvimento sustentável, ao integrar modelo cooperativado, impacto social e respeito à fauna e flora.
Em 2023, a associação anunciou um projeto ousado de expansão, para entrar no mercado de biocosméticos e biomedicamentos. A estratégia inclui a construção de uma unidade fabril, no casarão principal da Usina Central Barreiros, desativada em 1996.
O investimento total – segundo o presidente José Cláudio da Silva – é orçado em R$ 1,3 milhão, sendo R$ 850 mil de capital próprio. Selecionada por meio de edital, a cooperativa obteve um financiamento de R$ 450 mil da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) para o funding do projeto.
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