A conclusão das obras do trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina faria o porto ter duas matérias-primas usadas na produção do aço verde: o minério de ferro e o H2V.
Ângela Fernanda Belfort / FONTE: ME
A transição energética vai mudar também a forma de se produzir aço. E a conclusão das obras do trecho Salgueiro-Suape da Ferrovia Transnordestina pode fazer com que o Porto de Suape consiga ter um empreendimento que, até constava no plano diretor da estatal, mas nunca avançou: uma siderúrgica, segundo o presidente do Conselho de Administração de Suape, Paulo Sales, que também é presidente do conselho regional da Amcham.
Uma das cargas que devem ser transportada pelo trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina é o minério de ferro, vindo do Sul do Piauí. “Com o processo de descarbonização, a siderúrgica terá que produzir aço verde, que praticamente não faz emissão de carbono”, explica Paulo. O subproduto intermediário deste processo chama-se DRI (Direct Reduction Iron) e servirá de matéria-prima para a produção de aço verde.
No processo químico de produção do aço, as empresas usam o carbono no processo industrial. Neste aço verde, esta reação química passaria a ser feita com o hidrogênio verde (H2V). O carbono é um dos gases que contribuem para o aquecimento global e um dos motivos pelos quais está ocorrendo o movimento de descarbonização é para freiar o aumento da temperatura da terra.
“A ferrovia vai demorar a ser concluída. E as fábricas de hidrogênio verde também não vão se instalar agora. Então, poderia ocorrer um planejamento, atraindo um investidor e Suape exportaria este aço verde em vez de exportar hidrogênio verde”, explica Sales. Em economia, existe uma coisa chamada valor agregado que faz o produto ficar mais caro, quando ele passa por mais beneficiamento.
Paulo argumenta que, com o tempo, as indústrias – que são as grandes compradoras do metal – vão passar a exigir o aço verde. “É um caminho sem volta. Suape tem todas as condições de avançar nesse sentido. E isso pode trazer grandes oportunidades”, comenta Paulo, que assumiu o conselho de administração de Suape há dois meses.
O presidente de Suape, Márcio Guiot afirma ser um entusiasta dessa abordagem. “Desse modo, não focamos apenas na exportação do H2V, mas conseguiria atrair indústrias, ter mais valor agregado na exportação. Caso contrário, vamos exportar H2V, exportar minério verde e importar aço verde”, comenta.
Ter uma siderúrgica em Suape era um antigo sonho dos pernambucanos, mas o porto não tinha a matéria -prima disponível que era o minério de ferro. Uma das cargas que vai viabilizar a implantação do trecho Salgueiro-Suape da Ferrovia Transnordestina é o minério de ferro.
Emissões zero da siderurgia
Um estudo divulgado em junho último pela consultoria alemã Think Tank informa que a siderurgia pode chegar a emissões zero de carbono na década de 2040. O Brasil é o segundo maior exportador de ferro do mundo, ficando atrás apenas da Austrália.
O mesmo levantamento diz que o Brasil é que o tem, entre os grandes produtores do minério, mais capacidade de produzir hidrogênio verde, por causa do percentual alto de energia renovável na sua matriz. O hidrogênio só é verde se for produzido a partir de energia limpa.
Ainda segundo o estudo, o País deveria se preparar para produzir o que eles chamam de “hidrogênio incorporado” que são os ferros e aços verdes que utilizam o H2V no seu processo industrial.
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