Por Ana Claudia Nagao / FONTE: PANORAMA FARMACÊUTICO
A falta de insulina iminente no SUS estimulou a formação da Frente Parlamentar Mista para a Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Diabetes na Câmara Federal. A iniciativa foi lançada oficialmente no fim da última semana.
Além dos parlamentares, o grupo conta com apoio da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). “Apesar de sermos o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo e termos potencial para produzir insulina localmente, o processo é muito burocrático tanto para os médicos quanto para os pacientes que dependem do SUS para a obtenção do medicamento. A falta de tratamento adequado pode desencadear outras doenças, resultando em mais consultas médicas e internações, que acabam onerando o sistema de saúde”, explica o Dr. Levimar Araújo, presidente da entidade.
Atualmente, o Brasil tem 16,8 milhões de doentes adultos de 20 a 79 anos, ficando atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. De acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF) , a estimativa é de que, até 2030, a condição comprometa a saúde de 21,5 milhões de pessoas.
Falta de insulina pode ser revertida com política de Estado
A falta de insulina poderia ser revertida com uma política efetiva de Estado que envolveria o incremento da produção nacional, planejamento das compras e do gasto do dinheiro e um melhor monitoramento dos estoques.
Essa é a opinião do médico sanitarista Walter Cintra, professor da Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo) da FGV, membro do FGVsaúde, em entrevista para a Folha de S.Paulo.
Segundo o especialista, é preciso ter uma política de Estado e não de governo, em relação aos fabricantes e distribuidores de medicamentos e outros insumos para a saúde a fim de garantir uma soberania sobre a cadeia de produção.
Quem lidera a venda de insulina?
A dinamarquesa Novo Nordisk lidera a comercialização de insulina para o varejo farmacêutico nacional, de acordo com a IQVIA. Ela é seguida de perto por Sanofi e Eli Lilly. Juntas, as três companhias respondem por cerca de 80% da produção no país. Os outros 20% estão basicamente concentrados na Aspen Pharma, na Biomm e na EMS.
Solução para a falta de medicamentos
Uma das soluções para a falta de medicamentos é incrementar a produção nacional, com financiamento adequado para o sistema de saúde. “Planejar com mais eficiência as compras e o gasto do dinheiro, monitorar os estoques, implantar políticas públicas e visão de planejamento estratégico baseado nas necessidades de saúde da população. Estas são prescrições gerais que servem tanto ao setor público como ao privado”, diz o especialista.
Falta de medicamentos atinge 98% das farmácias
O Brasil continua a conviver com a falta de medicamentos. Uma pesquisa do Conselho Federal de Fa
rmácia (CFF) revelou que 98% dos PDVs farmacêuticos ainda convivem com o desabastecimento.
De 683 estabelecimentos de todos os estados e do Distrito Federal, sendo 68% da iniciativa privada e os 32% restantes da rede pública, 671 registraram relatos de falta de medicamentos, especialmente das classes de antimicrobianos – categoria que inclui antivirais – e mucolíticos (expectorantes).
Na análise das motivações para a falta de medicamentos, a escassez no mercado foi apontada por 86,6% dos entrevistados. A alta demanda inesperada recebeu menções de 43,1%, enquanto 38,6% indicaram falhas do fornecedor.
Dos 671 profissionais que relataram desabastecimento, 470 (70%) disseram não conseguir alternativas. Para os demais 201, as opções citadas incluíram substituição, compra direta, manipulação, contato com o prescritor para apresentação das opções disponíveis e orientação ao paciente p
ara retorno ao médico.
Quanto a alternativas possíveis para contornar a situação, 65,9% relataram não haver alguma medida, plano ou protocolo de mudança de procedimento ou de uso racional de medicamentos adotados pela instituição. Já 34,1% afirmaram haver alguma medida, como substituição do medicamento, uso racional, reforço nos pedidos e limite da quantidade por paciente.
Para Gustavo Pires, diretor-secretário do CFF e coordenador da pesquisa, a escassez ainda reflete os efeitos da pandemia da Covid-19. “A indústria não conseguiu colocar em dia a produção dos fármacos e, por isso, mantém o déficit de importação de algumas matérias-primas essenciais para a fabricação dos medicamentos”, admite.
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