FONTE: INFOMONEY

Natura reportou números ruins com desafios de faturamento e dinâmica de margens, mas algumas casas seguem otimistas, ainda que reduzindo projeções

Por Lara Rizério

SÃO PAULO – A sessão desta sexta-feira (12) tem sido de extremos para as ações de empresas do setor de consumo e varejo mas, dentre elas, o grande destaque negativo fica para as ações da Natura & Co (NTCO3), com o resultado do terceiro trimestre e a mudança no guidance ofuscando os planos de listagem dos seus ativos nos Estados Unidos. A queda dos ativos foi de 17,54%, a R$ 33,00, após chegarem a cair 20,29%, a R$ 31,90, na mínima do dia.

A fabricante de cosméticos registrou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) consolidado ajustado de R$ 819,1 milhões no terceiro trimestre, queda de 47,1% ano a ano, com margem de 8,6%, de 14,8% um ano antes.

O Bradesco BBI destacou os números como fracos, com destaque negativo para Ebitda, que ficou 18% abaixo das estimativas. Segundo o banco, a retração do Ebitda foi impulsionada principalmente por despesas gerais e administrativas mais altas, devido à desalavancagem operacional das vendas mais fracas da Natura Brasil e dos negócios da Avon International.

Para a XP, a Natura reportou resultados fracos frente aos desafios de faturamento e dinâmica de margens. As vendas
líquidas consolidadas (excluindo o efeito do incidente cibernético no terceiro trimestre de 2020) caíram 4% na base anual, principalmente pela forte base de comparações e o ambiente macro desafiador.

O destaque negativo foi a lucratividade, com os analistas também destacando que as sinergias de Avon foram ofuscadas por pressões de custo/câmbio e menor diluição de despesas com vendas, gerais e administrativas.

“O lucro líquido veio acima das nossas estimativas, explicado por menores despesas financeiras, dado que a empresa
fixou o câmbio do trimestre (hedge cambial), enquanto o consumo de caixa atingiu R$ 673 milhões por causa de compras de estoques e maiores investimentos”, apontam os analistas.

Já do lado operacional, a XP destaca que a satisfação das consultoras/representantes está em níveis recordes, embora a produtividade da Natura Brasil tenha tido um forte impacto (queda de 21,7%), enquanto a base de representantes da Avon continua diminuindo com a implantação do novo modelo comercial. No entanto, a empresa espera que o modelo se estabilize no curto prazo enquanto as sinergias permanecem no caminho certo, com 40% sendo capturados até o fim de 2021.

Diante da dinâmica desafiadora observada tanto na receita quanto na lucratividade, a Natura&Co adiou a expectativa de atingir 14%-16% de margem Ebitda de 2023 para 2024. No entanto, o restante do guidance permaneceu, com projeção de receita líquida de R$ 47 a R$ 49 bilhões e uma relação entre dívida líquida e Ebitda abaixo de uma vez ao fim de de 2023.

A companhia optou pela revisão após recentes atualizações sobre os negócios e dado o ambiente operacional desafiador não previsto, como a pressão inflacionária, a interrupção de cadeias de suprimentos e os efeitos cambiais.

“Isso representa um risco de queda para nossas estimativas”, destacam analistas do JPMorgan capitaneados por Joseph Giordano, em relatório a clientes. “Não acreditamos que o mercado esperava uma possível revisão do guidance para baixo no curto prazo, principalmente porque essa projeção foi anunciada há cerca de 7 meses”, apontaram.

Já a XP destaca que, embora tenha visto o adiamento do guidance de margem como negativo, entende que é muito explicado por fatores exógenos, vendo como positivo o fato de que foi apenas adiado (ao invés de revisado para baixo ou cancelado).

Sobre a listagem nos EUA, o Citi apontou ser um bom movimento, pois deve projetar a empresa em uma base de investidores globais, logo, ter maior liquidez. “O timing, no entanto, ainda é incerto”, ponderou. Já o BBI acredita que a empresa também mude seu domicílio para fora do Brasil, o provavelmente tornará a Natura mais eficiente em termos fiscais.

Os analistas da XP ressaltam que, embora a dinâmica de resultados de curto prazo deva permanecer desafiadora, continuam otimistas com a recuperação da Avon, mantendo recomendação de compra e preço-alvo de R$ 63 por ação, ou um potencial de alta de 57% em relação ao fechamento da véspera.

O Bradesco BBI também reiterou a sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado).

“No geral, este não foi um bom resultado trimestral, mas há razões claramente específicas para isso, principalmente relacionadas à margem. (…) Continuamos a ter convicção no elemento central da tese de investimento na empresa, que é o turnaround [reviravolta do case] da Avon e, à medida que isso acontecer, devemos ver aceleração do crescimento das vendas e expansão da margem (embora com uma curva menos inclinada do que anteriormente”, avaliam os analistas que, contudo, reduziram o preço-alvo para os ativos de R$ 63 para R$ 61, um potencial de alta de 52% frente o fechamento da véspera.

(com Reuters)

Categorias: SINFACOPE

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